Hoje, a imprensa publicou inúmeras notícias sobre a fusão da Azul e da TRIP, a maior parte delas contida no AeroClipping do SNA. Mas eu gostaria de comentar duas matérias, de caráter mais opinativo: uma publicada na Folha de São Paulo – uma análise do Respício Espírito Santo Jr., professor de Engenharia dos Transportes da UFRJ e especialista em aviação – e a outra, uma nota do próprio SNA, que seguem abaixo. Eu retorno em seguida.
Matéria da Folha de São Paulo
Fusão vai abrir uma janela de oportunidades para o setor
RESPÍCIO ANTÔNIO DO ESPIRITO SANTO JUNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA
A fusão anunciada entre a Azul e a Trip tende a movimentar bastante o transporte aéreo no Brasil.
Além de criar a terceira maior empresa aérea brasileira e a maior regional da América Latina, vai abrir uma janela de oportunidades a novos conceitos, práticas, estratégias e negócios do setor.
Azul e Trip, juntas, poderão atrair grande volume de investimentos, uma vez que terão o segmento com mais potencial de crescimento no curto e médio prazos -o segmento regional- nas mãos.
Nesse cenário, a fusão atrairá a atenção das mais diversas empresas estrangeiras, uma vez que a capilaridade de alimentação e distribuição de passageiros da nova empresa será única.
Para a Azul-Trip, parcerias e contratos individuais com as estrangeiras tenderão a ser mais vantajosos do que o ingresso nas grandes alianças internacionais.
TAM (Latam) e Gol (Gol/Varig/Webjet) também tendem a se beneficiar, pois deverão repensar estratégias e renovar conceitos e práticas. Nesse sentido, ajudadas por uma grande movimentação externa, terão uma excelente oportunidade para se modernizar.
Por outro lado, haverá uma inevitável redução da concorrência nas ligações regionais -afinal, Azul e Trip deixarão de operar como concorrentes. Redução na concorrência quase sempre não é algo positivo para os passageiros.
Para quebrar esta nova realidade em várias das localidades hoje servidas pela Azul-Trip, em especial as operadas pelos aviões turboélices ATR, TAM e Gol deveriam adquirir aeronaves similares, o que não parece muito provável a curto prazo.
Outras questões têm relação com uma futura sinergia, com a dispensa de parte do contingente administrativo e a integração das culturas organizacionais das duas empresas, assim como dos planos de carreira, em especial da lista de pilotos seniores.
A fusão deve ser positiva para o setor como um todo, mas haverá contratempos inevitáveis -alguns de trato delicado e difícil.
RESPÍCIO ANTÔNIO DO ESPIRITO SANTO JUNIOR é professor do Departamento de Engenharia de Transportes da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), especialista em transporte aéreo
Nota do SNA
O Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) considera a fusão da Azul com a Trip uma notícia preocupante para a aviação. Ambas companhias são jovens, saudáveis economicamente, em franca expansão e poderiam continuar crescendo de forma independente. A fusão, no entanto, irá gerar uma redução na concorrência, acentuando a concentração de mercado no setor.
Com isso, saem perdendo tanto os passageiros (uma vez que a concorrência reduz o preço das passagens aéreas e melhora os serviços), quanto os trabalhadores, já que normalmente essas aquisições geram a redução de postos de trabalho nas empresas.
O SNA irá acompanhar de perto esse processo, que ainda depende de aprovação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), e fiscalizar o cumprimento das leis trabalhistas e da regulamentação profissional.
Comento
A análise do Respício aborda aspectos interessantes, especialmente os apresentados a seguir, que tem mais a ver com o assunto para o ponto de vista dos tripulantes:
1) A fusão vai vai “abrir uma janela de oportunidades a novos conceitos, práticas, estratégias”, o que deve incluir as práticas de RH que vem sendo implementadas pela Azul (que é a empresa que liderará o grupo). Ou seja: pode-se esperar para o futuro que as políticas de RH voltadas para a formação de tripulantes internamente desde o zero (o “Programa ASA”) , a contratação de pilotos com baixa experiência, e salários baixos devem ser mais comuns no mercado.
2) Estima o especialista que “Azul e Trip, juntas, poderão atrair grande volume de investimentos”, o que significa que o setor aeronáutico brasileiro deverá crescer mais que a média da economia – uma excelente notícia para nós, tripulantes.
3) E para quem já está trabalhando na Azul e na TRIP, o especialista estima que haverá “a dispensa de parte do contingente administrativo e a integração das culturas organizacionais das duas empresas, assim como dos planos de carreira, em especial da lista de pilotos seniores.””
Já a nota do SNA, de caráter mais esquerdista, não me parece das mais felizes. Ao contrário do que o sindicato afirma, eu acho que a fusão na verdade aumenta a concorrência, uma vez que cria uma empresa que efetivamente tem como competir com a dupla TAM e Gol – hoje duopolistas, na prática. E quanto a possíveis demissões, acho uma conclusão também equivocada (pelo menos para os trabalhadores operacionais), já que a estratégia da Azul+TRIP é conquistar mercado. Esses argumentos estão presentes no meu post de ontem sobre este assunto, por sinal.
Sander Ruscigno
9 anos agoConsiderando apenas o ponto de vista de quem esta de fora e quer entrar, essa fusão é ruim. Haverá uma CIA a menos, traduzindo, menos oportunidades…
Mas como o Raul mesmo falau, há pontos muito positivos, então espero que a longo prazo esses pontos positivos superem os negativos…
Raul Marinho
9 anos agoEu não vejo desta forma. A cia que “sai” (a TRIP), na verdade continua, só que como parte da Azul+TRIP. Portanto, não diminuem as oportunidades.