Estive ontem na LABACE preparado para encontrar choro e ranger de dentes. Dólar a R$2,35 (com perspectiva de R$2,50 até o final do ano), PIBinho cada vez mais “inho”, demissões de pilotos em massa, ANAC sentada em cima dos slots de Congonhas… Motivos para pessimismo é que não faltam. Mas não foi bem isso o que senti conversando com as pessoas da feira: embora o entusiasmo não esteja estampado nos rostos dos vendedores de aeronaves (a não ser o pessoal da asa rotativa, um pouco mais empolgado), tampouco o clima é de velório. A sensação foi a do slogan de campanha do deputado Tiririca: “pior que está não fica”.
O caso é o seguinte: nossa infraestrutura aeroportuária é medíocre? É! Vai ficar ótima no curto/médio prazo? De jeito nenhum! Mas vai melhorar: os aeroportos públicos estão sendo privatizados (ou “concedidos”, para usar um termo petistamente correto), os projetos de aeroportos privados estão saindo do papel, e a infraestrutura vai ficar melhor, sem dúvida – não do jeito que gostaríamos, mas melhor do que hoje está. A economia está devagar? Está! Vamos reverter isso, e passaremos a crescer vertiginosamente? Não creio… Mas, por outro lado, não estamos em recessão, e o país anda consegue atrair investimento estrangeiro, basta ler os jornais.
Especificamente em relação ao mercado de trabalho de pilotos: quem tinha que demitir em grandes volumes, já demitiu – e a Gol, inclusive, está recontratando alguns pilotos. Pode ser que a Passaredo ainda nos traga más notícias numa escala menor, mas mesmo que ela demita seus 30-40 pilotos, o número deve ser compensado pelas contratações da Azul e da Avianca que ainda devem acontecer até o final do ano. E, por outro lado, a histeria do “apagão de pilotos” finalmente arrefeceu (a procura por cursos de piloto caiu significativamente), e os pilotos que já iniciaram o treinamento estão “colocando a manete em idle” (ou, no mínimo, “tirando do TOGA”)… Muita gente está indo para o exterior (há uma campanha massiva neste sentido com o apoio do SNA, da ABRAPAC, do Fórum Contato Radar, e inclusive deste blog), e o ponteiro da balança do mercado de mão-de-obra de pilotos poderá se mover para o centro novamente se a situação da TAM tiver um desfecho mais positivo do que o anunciado inicialmente. É por isso que eu acho que as perspectivas para a aviação não são sombrias, muito embora não esteja otimista também.
E foi mais ou menos isso o que ouvi da voz rouca das ruas da LABACE. Lógico que esta foi a MINHA percepção, e gostaria de saber a percepção de outras pessoas que estiveram na feira deste ano. A seção de comentários é serventia da casa.
Enderson Rafael
7 anos agoEu ando otimista. E olha que sou daqueles que sempre trabalha com o “worst case scenario” hein…
Löhrs
7 anos agoGostaria de saber a opinião do Blog (e frequentadores) para a situação dos já checados e rechecados mas que com essa crise foram demitidos. Pessoas na casa do 40 e uns, 2500 horas totais, INVA com ICAO 4, Graduação em Aviação Civil, 200 horas de King como Cmte com curso feito na Flight Safety, inglês bom e alemão fraquinho…
Porque para a Comercial não são interessantes por causa da idade e tbm não são o supra sumo da executiva por causa das poucas horas….gente assim consegue trabalho onde pelo amor de Dio, porque eu estou mandando CV a rodo e até agora nada. Alguma dica? RAul??
Julio Petruchio
7 anos agoVou te contar uma coisa: com tudo isso, se você não tiver um “Very Big White Shark”, terá de contar com o conceito de sorte: “Lugar certo, hora certa e pessoa certa”.
Löhrs
7 anos agoSim acho que vc está certo. Pois este “tudo isso” é o mesmo que quase nada!!!
Julio Petruchio
7 anos ago*para tal cargo
Julio Petruchio
7 anos agoNo caso do Nobre Deputado Federal mais votado nas últimas eleições par tal carga, provou-se por A + B que no contexto o qual ele se referia ficou e a cada dia está pior!
Pessoalmente torço que o mesmo não ocorra no contexto da aviação.
Em tempo: a Passaredo continua “mal das pernas”?
Beto Arcaro
7 anos agoBom dia Raul!
Comentamos bastante sobre isso, ontem, lá na LABACE.
Francamente, senti que a Feira deste ano foi a mais “estranha” que eu já fui.
Meio “Surreal”, se compararmos ao mesmo evento de uns dois anos atrás.
Se a gente parar pra pensar, o quê leva uma Gulfstream, a trasladar todos os modelos demonstradores de sua linha para o Brasil (inclusive o G650) sem expectativa de vender pelo menos um?
Estão tão desesperados assim, pelo nosso mercado?
Será que estão vendo algo que a gente não está?
Será que as “Coisas” lá fora estão piores do que aqui??
Como comentei ontem, ví mais “gente de vendas” circulando nos “Come e Bebes”, com pouco, ou nada pra fazer nos stands.
Encontramos muitos Colegas Aviadores também!
Afinal, a gente frequenta esses lugares pra fazer contatos e permanecer “Up to date” com as novas aeronaves (gostei muito do Epic LT!) com as novas tecnologias, etc.
Achei interessante a “Certificação CAM”, a qual, você estava me explicando.
Algo que veio bem à calhar!
No mais, penso que o Mercado está “parado”.
Está todo mundo com medo, ansioso, e isso é muito fácil de se perceber.
Pode melhorar? Pode!
Pode piorar? Pode, e muito!!
PS: O Stand mais vazio da LABACE: O da ANAC, é claro!! Todo mundo quer ficar “Bem Longe”!!
Tiago Dreyer
7 anos agoRaul, bom dia.
Estive conversando com um amigo, piloto executivo, instrutor e checkador há pelo menos 25 anos e, de acordo com a conversa, também tenho a impressão de que “pior do que tá, não fica”. Como mencionado no post, as grandes demissões devem cessar. Azul e Avianca devem contratar. Além disso, algumas pequenas companhias estariam iniciando atividades no norte/nordeste.
Este amigo acredita que as demissões deixarão de afetar tão bruscamente a “geral” pois, com a grande procura de empresas estrangeiras no momento, até pilotos que não foram demitidos possam optar por deixar o país (o que pode até ser ruim para as companhias, se isso voltar a ser uma “melhor opção”, como na época da Varig). Sem dúvida, é uma opção melhor que voltar aos “papatangos”.
Mesmo depois de checkado, continuo “rato de aeroclube”, percebi que a procura por instrução de voo, pelo menos aqui em Curitiba, caiu vertiginosamente.
Vejo ainda, aqui no Bacacheri, os taxis aereos começando a se recuperar da “crise dos malotes”, voltando a ter um movimento um pouco melhor com outros tipos de operação (conclusão que tirei depois de conversar com pilotos destas empresas).
Considerando esses fatores, começo a acreditar que não vai demorar muito para “o pior passar” e a geral começar a absorver um pouco dos “recém checkados”.
Mas esta é a minha opinião, considerando meu “limitado mundo do SBBI”.
Abraços.