Por mais que a qualidade a produção jornalística sobre aviação seja sofrível no Brasil, este post publicado hoje no blog da jornalista do Estadão Sonia Racy rompeu todos os limites. Vejam o absurdo (meus comentários seguem em vermelho):
No ar
25.abril.2015 | 1:10Investigações preliminares apontam: a trágica queda do helicóptero que matou cinco pessoas – entre elas, Thomaz, filho do governador Geraldo Alckmin– se deu por falha de… manutenção.
Jura? Mas não era essa a hipótese mais provável desde o início?
Não por causa da soltura de duas pás, como se especulou. O que teria se soltado seria uma das quatro barras-suporte de transmissão da aeronave. Elas ficam na parte de cima e são as peças principais do rotor central.
Mas e os objetos vistos se soltando da aeronave e caindo vários segundos depois, não foram as pás (que, por sinal, foram achadas em locais distantes do restante do helicóptero)? O que a jornalista deve ter ouvido (e não entendido) é que a tal “barra-suporte de transmissão” (se é que este é o nome correto da peça) pode ter se soltado do rotor principal (e não “central”) e, com isto, ter ocasionado a perda das pás. Ou seja: no fim das contas, pouco mudou da informação original, e o helicóptero deve ter caído “por causa da soltura de duas pás”, sim, exatamente como se especulou inicialmente – a única informação nova é o que motivou a tal “soltura das pás”.
No ar 2
E mais. Conforme gravação do sistema de segurança do Helipark – de onde o helicóptero decolou, infelizmente sem volta – o problema teria começado antes do voo. Depois de duas horas em solo, testando o rotor da cauda, a aeronave deixa o chão e paira 30 centímetros acima – para, em segundos… decolar.
Quem entende do assunto acredita que o piloto pode ter decolado para não cair.
Espera aí… Eu não sou piloto de helicóptero, e portanto não entendo do assunto, mas isso que está acima não faz sentido. Então, o piloto está pairando a 30cm do chão e, para não cair dessa altura ínfima, ele resolve decolar e voar a várias centenas pés de altura sobre uma área densamente povoada? Como assim, dona Sônia?
No ar 3
Alem disso, a fita mostra que o piloto Carlos Haroldo Isquerdo, com 30 anos de experiência, entrou na cabine pelo lado habitual.
O que elimina a possibilidade de o caçula de Alckmin ter estado no comando.
Bem… Em primeiro lugar, o fato de o Thomaz ter se sentado na esquerda do helicóptero (posição mais comum do segundo em comando de uma aeronave de asa rotativa) não “elimina a possibilidade de o caçula de Alckmin ter estado no comando” (imagino que a repórter esteja se referindo a quem estava operando os comandos da aeronave, e não a ser o comandante formal do voo). Como a aeronave é configurada com comandos nos dois assentos, seria perfeitamente possível que o Thomaz fosse o “pilot flying” no momento do acidente (não estou afirmando que foi isto o que ocorreu, mas que é uma possibilidade). porém, isso nem é relevante, uma vez que, pelo que se sabe, o helicóptero se tornou incontrolável depois de perder as pás, e seja quem for que estivesse pilotando a aeronave, não faria nenhuma diferença.
No ar 4
Qual o prazo para que o Cenipa, responsável pela investigação, venha a público dar a versão final? Não há, pois esse helicóptero não tinha caixa-preta.
Essa fechou com chave de ouro! Quer dizer, então, que o CENIPA não tem prazo para entregar o Relatório Final porque “esse helicóptero não tinha caixa-preta”? Ora dona Sônia… Se uma aeronave acidentada tem caixa-preta, então o CENIPA passa a ter prazo para concluir uma investigação, é isso mesmo? Poderia a senhora citar onde isso está escrito nos regulamentos sobre emissão de Relatórios Finais DO CENIPA?
Este post do blog da Sônia Racy levou o jornalismo aeronáutico a um novo patamar. Que saudades do tempo do “bico da aeronave”, da “hélice do helicóptero” e do “teco-teco”…
Rodrigo Edson
6 anos agoRaul
Como sempre…vc manda muito bem em seus posts
Parabéns
Rodrigo
marcio sader
6 anos agoToda a reportagem é realmente maravilhosa…mas a “no ar 2″ realmente…alem da conclusão magnifica e extremamente coerente, ainda tem a pitada de ouro…”quem entende do assunto acredita”. Tento imaginar quem “entende do assunto” disse isso a ela!!!! Ou será apenas fruto da imaginação da nossa querida imprensa, que no tocante a aviação sempre nos presenteia com pérolas como essa…
Dantas
6 anos agoRealmente essa é a matéria sobre aviação mais tosca que já li. Parabéns pelas suas colocações Cmte Marinho !
Roberto Cavalcante de Mendonça
6 anos agoParabéns Cmte.!!!
Jonatas Gabriel Rossi Martins
6 anos agoQuando a gente acha que já viu de tudo, aparecem surpresas… Tem-se mostrado reiteradamente espantoso o nível do jornalismo aeronáutico brasileiro. Realmente lastimável…
Roberto Cavalcante de Mendonça
6 anos agoParabéns!!!
Scoot
6 anos agoVendendo a noticia. Isso é o Brasil.
Will
6 anos agoSenti saudade também Raul, é impressionante a quantidade de asneiras numa reportagem tão curta como essa !!!
Antonietto
6 anos agorsrs poxa dona Sônia, não f**e…